segunda-feira, 2 de julho de 2012

Parafuso passante


Falha do parafuso passante em minipilar cônico angulado cone morse - relato de caso

 Resumo do artigo publicado no Innov Implant J, Biomater Esthet, São Paulo, maio/ago. 2010.Pelos  autores: Renato de Freitas;  Máx Costa Dória;  Luiz Alves Oliveira-Neto e  Fabio Cesar Lorenzoni. Este trabalho tem como objetivo descrever um caso clínico que apresentou uma falha na região de solda das roscas do parafuso passante em um intermediário do tipo minipilar cônico angulado de 30º em um implante cone morse.

INTRODUÇÃO
Os implantes osseointegrados são uma modalidade  de tratamento viável, eficaz, com altas taxas de sucesso e longevidade. No entanto, apesar da confiabilidade da osseointegração, a longevidade das próteses sobre implante ainda é comprometida tanto por falhas biológicas  quanto mecânicas.
As falhas na interface implante-intermediário estão relacionadas à desadaptação do Intermediário ao implante, as quais podem estar associadas ao afrouxamento e/ou fratura de parafusos do intermediário, sendo a fratura do próprio intermediário um episódio raro.
O parafuso de retenção do intermediário está sujeito a cargas de flexão lateral e alongamento, o que pode resultar na perda de retenção e consequente desadaptação da interface implante-intermediário. A incidência de fratura do parafuso é pequena tanto em coroas unitárias (0,35%) quanto em próteses parciais fixas (1,5%). As causas principais podem ser: defeitos na forma ou material do parafuso, adaptação não passiva da infraestrutura protética e, sobrecarga biomecânica e/ou fisiológica. Na maioria dos casos, o desaperto do parafuso do pilar ou da prótese ocorre antes da fratura com incidência em 5 anos de 12,7%.
Em casos de fratura do parafuso de retenção no interior do implante foram relatados na literatura alguns métodos de remoção, desde o uso da sonda exploradora, sonda reta ou instrumental endodôntico até  kits de recuperação. Porém, a remoção do parafuso deve ser conservadora, visando à possibilidade de substituí-lo por um novo parafuso. Danos ao implante podem inviabilizar a restauração protética, sendo necessária sua remoção.
As conexões internas cônicas proporcionam um contato íntimo entre implante-intermediário, aumentando a estabilidade mecânica do intermediário. Uma grande vantagem da conexão cônica é que a fixação e a estabilidade não estão em função do parafuso de retenção, mas resultam do atrito gerado entre o intermediário e o implante. A boa estabilidade obtida por este sistema parece oferecer uma alta resistência à flexão de forças na interface implante-pilar.
Na conexão interna do tipo cone morse (Neodent Implante Osseointegrável, Curitiba, PR, Brasil), o assentamento pode ser realizado através de intermediários sólidos em corpo único com roscas na porção apical ou através de duas peças, no qual o intermediário é transfixado por um parafuso passante, permitindo a instalação de componentes pré-fabricados com angulações de 17º e 30º com torque de 10 Ncm3. Durante o processo de fabricação do intermediário com duas peças, a porção rosqueável do parafuso passante é soldada ao eixo do parafuso após a sua introdução no pilar, o que produz uma região de maior fragilidade (Figura1).
                                                      Vista clínica inicial.


                                                 Radiografia periapical inicial.



                                                   Seleção do intermediário.



 Minipilar cônico angulado em posição.


 Em (1) observa-se o intermediário após a falha e, em
                                              (2) nota-se um intermediário íntegro.


 Palito de madeira adaptado para remoção das roscas
                                                               dentro do implante.


 Roscas do parafuso passante removida do implante.
                             Em a) posicionado no eixo do parafuso, b) e c) separadas do
                                                                      eixo.




Caso fi  nalizado. a) Vista clínica fi  nal. b) Orifício pela
                          palatina, garantido através do uso do minipilar angulado.

DISCUSSÃO


Independente do tipo de conexão, o torque no parafuso gera uma pré-carga, responsável pela retenção do intermediário ao implante. No hexágono externo, a estabilidade do conjunto  intermediário-implante é dependente principalmente do aperto do parafuso. Nas conexões internas, o formato e o atrito das superfícies resultam na proteção contra forças de flexão no sistema, implicado em menores taxas de afrouxamento do parafuso. Entretanto, as principais causas de afrouxamento ou fratura do parafuso foram identificadas como: torque inadequado, forças oclusais desfavoráveis e características do material do parafuso com relação à resistência e fadiga.

Na conexão do tipo cone morse, os intermediários de duas peças principalmente do tipo minipilar cônico angulado em 17º e 30º são retidos no implante por meio de um parafuso passante que apresenta as roscas soldas ao seu eixo. O procedimento de solda das roscas ao eixo do parafuso gera um ponto de fragilidade, não apresentando as mesmas características de força e resistência à fadiga de um parafuso torneado em peça única. Inclusive, o torque recomendado pelo fabricante neste parafuso é menor do que outros, cerca de 10 Ncm3. Desta forma, diversos fatores podem interagir propiciando falhas. Devido à angulação destes componentes ocorre um direcionamento não axial das forças provenientes da mastigação, o que acaba sobrecarregando regiões específicas deste sistema, principalmente o parafuso.

Algumas empresas apresentam kits de reparo do implante para remoção utilizando instrumentos rotatórios, que podem danificar as roscas internas do implante tornando-o inútil, além de apresentarem um custo extra. No entanto, por vezes, o fragmento do parafuso pode ser removido de forma conservadora e substituído por um novo parafuso. Nos casos em que o fragmento não se encontra retido, pode ser utilizado um explorador, sonda reta ou instrumental endodôntico para tentar desenroscá-lo.

A ponta do instrumento é movida com cuidado em orientação no sentido anti-horário, sobre a superfície do segmento de rosca até ocorra o afrouxamento. Neste relato de caso, foi utilizada uma técnica diferenciada, prática e de baixo custo, que facilitou a remoção das roscas fraturadas. Com o auxílio de um pequeno palito de madeira introduzido no interior destas roscas, o contato com a umidade causa a expansão da madeira, propiciando desta forma o aprisionamento das roscas fraturadas ao palito, sendo possível desenroscá-la.

O ideal seria a utilização de outro modelo de intermediário sem a necessidade de um parafuso passante com roscas soldadas, mas devido à ausência de intermediários com angulação necessária para corrigir a inclinação dos implantes cone morse, optou-se novamente pela utilização do mesmo modelo de intermediário com parafuso passante.

Recomenda-se muito cuidado na utilização de componentes protéticos angulados com parafuso passante devido ao tipo de solda utilizada nesta marca comercial e na colocação destes implantes cone morse somente quando for possível uma posição e inclinação correta em relação aos dentes adjacentes.

CONCLUSÃO

Falhas no parafuso do intermediário acontecem em taxas reduzidas, mas podem comprometer a restauração protética e o implante osseointegrado. O uso de intermediários que apresentem parafuso passante com roscas soldadas ao eixo do parafuso deve ser feita com bastante cautela. A utilização do palito de madeira para remoção deste tipo de rosca fraturada mostrou-se um técnica baste eficaz, prática e de custo reduzido. Devemos lembrar que o ideal é a colocação dos implantes na angulação correta e 2 mm intraósseo, evitando assim, a utilização destes componentes angulados com os parafusos descritos.

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